06 julho 2010

Quase todo o país em alerta amarelo de calor

Não quebrou os maiores recordes, mas o calor chegou em força. Os termómetros subiram ontem acima dos 40 graus Celsius em vários pontos do país e vão continuar lá no alto pelo menos até amanhã. Para hoje, a Direcção-Geral de Saúde (DGS) pôs quase todo o país em alerta amarelo de calor, o segundo mais grave. Significa que as temperaturas podem provocar efeitos na saúde. Salvam-se os distritos do Porto e de Viana do Castelo, que estão em situação normal.

A possibilidade de esses dias de calor terem um impacto na mortalidade no país não está descartada. Até ontem, o Índice Ícaro, que procura prever este impacto, apontava para uma situação de possível alerta de onda de calor em avaliação. Trata-se de um degrau antes do alerta de calor, com impactos severos na mortalidade.

Uma onda de calor ocorre quando há pelo menos seis dias com a temperatura máxima cinco graus Celsius acima do valor médio para o período. Mas, actualmente, os responsáveis da DGS não se preocupam apenas com as ondas de calor em si. "A nossa preocupação tem mais a ver com o aumento da temperatura", explica o subdirector-geral da Saúde, José Robalo. Devido à experiência dos anos anteriores, a DGS decidiu este ano antecipar a divulgação de alertas para preparar os grupos mais vulneráveis.

Mortalidade em Maio

Este ano, o aumento da temperatura observado em meados de Maio coincidiu já com um excesso de mortalidade assinalável (349 óbitos acima do esperado), de acordo com os dados do Sistema de Vigilância Diária de Mortalidade do Instituto de Saúde Ricardo Jorge. Os distritos afectados foram então Braga, Leiria, Santarém, Lisboa, Setúbal e Beja.

Entre 31 de Maio e 6 de Junho verificaram-se igualmente temperaturas acima da média para a época em Évora, Beja, Santarém e Faro, mas o impacto na mortalidade foi bem mais reduzido (57 óbitos acima do esperado). "Há uma certa coincidência entre o aumento da temperatura e o aumento da mortalidade, apesar de não podermos dizer que se está perante um fenómeno de causa-efeito", nota José Robalo. O acréscimo na mortalidade em Maio poderá ter a ver com o facto de as pessoas não terem tido um período de adaptação para o calor, porque se verificou uma subida súbita da temperatura, diz.

Desde o Verão de 2003 - que ficou associado a um excesso de mortalidade de quase duas mil pessoas -, a DGS todos os anos desenvolve um plano de contingência para minimizar os efeitos negativos do calor intenso e articular a resposta das diversas instituições. Além do calor, os níveis de alerta da DGS são condicionados também pela amplitude térmica, níveis de ozono e incêndios (emissão de partículas para a atmosfera).

Até ontem, porém, a situação parecia estar calma. No Alentejo, não "havia nada de especial, nem de anormal a registar para a época", segundo o assessor da Administração Regional de Saúde (ARS) local, Mário Simões. Os hospitais e centros de saúde têm todos "climatização" e o problema verificado no Hospital de Elvas, onde um dos dois geradores avariou no fim-de-semana, estava em vias de resolução, acrescentou.

Na região de Lisboa e Vale do Tejo, também não se verificava ontem qualquer acréscimo da procura das urgências, garantiu o assessor da ARS local, Pedro Coelho dos Santos.

O calor desses dias está a ser causado por uma massa de ar quente vinda de África e do interior de Espanha. É o resultado de um centro de alta pressão estacionado sobre o Atlântico e outro no Norte de África, que provocam uma circulação atmosférica de quadrante Leste, trazendo o calor para o sul e interior de Portugal.

As temperaturas de ontem estiveram muito acima do usual para esta época. Os termómetros subiram acima dos 40 graus em quase todo o Alentejo e na região de Lisboa e Vale do Tejo. Coruche, no Ribatejo, registou a maior temperatura - 43 graus - segundo dados provisórios do Instituto de Meteorologia (IM). O recorde para um mês de Julho cabe à Amareleja, com 46,5 graus em 1995.

Lisboa chegou a 40,1 graus, abaixo dos 40,6 graus que atingiu em Julho de 2007. Tanto nesse ano, como em 2006, Julho foi marcado por dias de calor ainda mais intenso do que os que agora se verificam. Embora as temperaturas estejam muito acima da média, não é uma situação completamente anómala. "Picos de calor são normais no nosso clima", afirma a meteorologista Ilda Simões, do IM.

Nas previsões do instituto, o tempo vai-se manter quente pelo menos até amanhã. As temperaturas voltarão a bater nos 40 graus no Alentejo, Ribatejo, Estremadura, Beira Baixa e Alto Minho. A partir de amanhã, ainda assim, haverá alguma instabilidade, com ocorrência de aguaceiros e trovoadas até quinta-feira. Na sexta-feira, a temperatura deverá cair.
Fonte: Público.pt

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